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É tudo uma questão de tempo? A(s) questão(ões) da temporalidade na educação de adultos

E se o tempo não for apenas o que o relógio diz? De Kant à educação contemporânea, descubra como a temporalidade atravessa todas as experiências humanas.

time

 

Autoria: Sabine Schmidt-Lauff
Tradução: EPALE Portugal

 

O tempo está indissociavelmente interligado à existência humana e à nossa experiência. A temporalidade - um conceito mais neutro, mas multifacetado - é amplamente considerada como uma dimensão constitutiva de toda a ação e existência humanas. O tempo não só funciona como uma medida quantitativa para descrever ou avaliar fenómenos físicos (como o movimento ou as transformações no lugar e na substância), como também funciona, à semelhança do espaço, como um quadro categorial através do qual são construídos os aspetos relacionais da socialidade e da individualidade.

“O tempo”, como afirmou Emmanuel Kant, “é um conceito necessário que está na base de todas as nossas perceções”. (Kant KrV B 52).

A aprendizagem como ação no tempo

A aprendizagem desenrola-se invariavelmente ao longo do tempo, sob duas formas principais: num sentido cronométrico (“a aprendizagem leva sempre tempo”) e situada em várias fases da vida humana num sentido cronológico (por exemplo, “aprender a morrer”).

Além disso, as teorias e os conceitos educativos estão intrinsecamente inseridos em contextos históricos. Por exemplo, o conceito de aprendizagem ao longo da vida surgiu como um imperativo moderno em resposta às transformações aceleradas que são caraterísticas da sociedade contemporânea - uma evolução frequentemente enquadrada na narrativa mais vasta da modernização (“aprender para o futuro”). As instituições educativas, os programas e os profissionais são, por conseguinte, responsáveis pela promoção da aprendizagem contínua ao longo da vida. Os indivíduos devem responder e adaptar-se continuamente às transições da vida, muitas das quais caracterizadas pela incerteza e pela imprevisibilidade.

Por fim, é importante reconhecer que a experiência de aprendizagem é marcada por qualidades temporais, que são diversas, subjetivamente percebidas e variam consoante os contextos, as situações, o dia, a estação...

"Se o tempo fosse apenas aquilo que os relógios medem, rapidamente encontraríamos uma resposta para a questão do tempo. Não seria mais do que a duração mensurável dos acontecimentos. Mas fica-se com a impressão de que isso ainda não toca o seu verdadeiro significado." (Rüdiger Safranskis, 2015, tradução nossa)

O conceito de tempo oferece uma lente poderosa para abordar a questão do que é distintamente humano. Como argumentam Stolarski et al. (2018), "A capacidade de efetuar viagens mentais no tempo constitui uma descontinuidade entre os seres humanos e os outros animais. Esta capacidade absolutamente única [...] permite-nos ‘não só voltar atrás no tempo, mas também prever, planear e moldar praticamente qualquer evento futuro específico’" - tudo a partir do momento presente. Esta capacidade temporal permite aos indivíduos refletir sobre experiências passadas, projetar-se em futuros possíveis e agir no presente.

Para a educação de adultos, essas capacidades de retrospeção e de prospeção (para usar as expressões de Edmund Husserl) são centrais para os processos de aprendizagem e para a reconfiguração da identidade ao longo da vida (“biografização”, como definida por Peter Alheit). De que forma os pensamentos, as perceções e as ações relacionadas com o tempo estão habitualmente ancoradas nos processos educativos? Que diferenças na aprendizagem ao longo da vida relacionada com o tempo surgem ao longo das várias fases da vida e como é que essas diferenças se manifestam de forma diferente para pessoas de géneros diferentes? Como é que os próprios aprendentes percecionam e navegam nestas diferenças educativas relacionadas com o tempo?

James Draper utiliza a metáfora “Mandala Dinâmica da Educação de Adultos”, que “engloba uma visão do mundo” da educação de adultos nas suas “realidades de hoje e uma visão do futuro” (Draper, 2016, p. 156).

A sociedade contemporânea é marcada por uma maior sensibilidade ao tempo como dimensão central da existência humana. Esta consciência temporal acrescida molda profundamente várias esferas da vida e a educação de adultos não está de modo algum isenta da sua influência. Tanto no ensino como na aprendizagem, o tempo não é apenas um fator logístico, mas um princípio constitutivo que se manifesta de forma multifacetada, por vezes contraditória e frequentemente subtil. Na idade adulta - em contraste com a infância e a adolescência com as suas instituições de tempo estruturadas para a educação (ensino escolar obrigatório) - o tempo para a aprendizagem formal, não formal e informal desempenha um papel importante para além de outros recursos (monetários).

No processo de aprendizagem, as nossas experiências e a forma como gerimos o tempo podem criar qualidades específicas de tempo, como encontrar a paz, alcançar a concentração rítmica e a contemplação. Tal como um entrevistado referiu na investigação Time and Learning in Adulthood, pode até dar “força para o resto do ano”. No entanto, também pode levar a uma pressão à adaptação, a um aumento do stress e à compressão do tempo.

“O tempo em si mesmo”

Este blogue marca um afastamento das teorias convencionais sobre o tempo. Aprofunda o conceito de “tempo em si mesmo”, tratando-o como uma entidade que transcende a perceção humana e a redução simplista a tempos cronométricos e cronológicos (lineares). Ao fazê-lo, convida os leitores a explorarem as dimensões profundas e frequentemente negligenciadas do tempo, encorajando uma compreensão mais profunda que vai para além da experiência quotidiana. Como afirmou Levine (1997, p. 16): "a forma como as pessoas interpretam o tempo das suas vidas compreende um mundo de diversidade. Existem diferenças drásticas a todos os níveis: de cultura para cultura, de cidade para cidade e de vizinho para vizinho. E, acima de tudo, aprendi que o tempo no relógio só começa a contar a história."

Saiba mais: sugestões de leitura 

Um olhar pela EPALE revela numerosos exemplos ilustrativos de como as dinâmicas temporais se manifestam na prática da educação de adultos, no pensamento, na investigação, nas teorias, etc:

  • No seu “Key Takeaways for Educators and Parents”, o projeto  Digital Distraction or Digital Inclusion destaca o tempo como uma das quatro principais preocupações, sublinhando “a necessidade de abordar os custos ocultos dos conteúdos digitais ‘gratuitos’: tempo, atenção e influência comercial subtil”
  • A Time to Breathe é um projeto de parceria transnacional, com a duração de dois anos. “destinado a proporcionar educação, formação e sensibilização a nível nacional e europeu sobre processos criativos para promover a saúde mental positiva e o bem-estar emocional dos jovens”. 
  • Em Robot society: the new normal, Jumbo Klercq fala sobre a aceleração da sociedade atual.

Referências

Draper, James A. (2016). The Dynamic Mandala of Adult Education. In Shah, S Y. & Choudhary, Shri K.C. (eds.). International Dimensions of Adult and Lifelong Learning. International Institute of Adult and Lifelong Education (pp. 156-164). New Delhi/India.

Hassinger, Hannah & Schmidt-Lauff, Sabine (2024). Zeitdimensionen des Weiterbildungsverhaltens und seiner Barrieren (pp. 19-24). Forum erwachsenenbildung, 57(2). https://www.waxmann.com/artikelART105700

Levine, Robert (2006). A Geography of Time: The Temporal Misadventures of a Social Psychologist. New York: BasicBooks.

Safranskis, Rüdiger (2015). Zeit. Was sie mit uns macht und was wir aus ihr machen - Time: What It Does to Us and What We Make of It. Munich: Hanser.

Schmidt-Lauff, Sabine (eds.) (2023).  Time and Temporalities in (Adult) Education and Learning. Sisyphus Journal of Education, 11 (1); with Editorial: Introduction (pp. 6-9). https://doi.org/10.25749/sis.29952

Stolarski, Maciej, Fieulaine, Nicolas & Zimbardo, Philip G. (2018). Putting time in a wider perspective: The past, the present and the future of time perspective theory. In V. Zeigler-Hill & T. K. Shackelford (Eds.), The SAGE handbook of personality and individual differences: The science of personality and individual differences (pp. 592–628). Sage Reference. https://doi.org/10.4135/9781526451163.n28

Sobre a autora

Sabine Schmidt-Lauff é professora de Educação Contínua e Aprendizagem ao Longo da Vida na Universidade Helmut Schmidt, desde setembro de 2016. O seu principal interesse de investigação é a investigação comparativa internacional sobre a aprendizagem ao longo da vida; tempo e temporalidades na educação de adultos; digitalização e natureza digital da educação e da aprendizagem; e identidade e prática profissional no domínio da educação de adultos. É especialista em educação de adultos da EPALE.

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Comentário

I truly believe that rethinking our relationship with time in education is essential for the future. The quote “the time on the clock only begins to tell the story” really sums it up. I hope that adult education systems become more sensitive to individual time rhythms and life stages. Personally I would love to see more flexible, reflective spaces for learning not just ones focused on efficiency or speed but on meaning, identity, and self-development across time.

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